segunda-feira, 28 de julho de 2008

Plainview, o Açogueiro

Daniel Day-Lewis toma este épico em uma interpretação vencedora
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SANGUE NEGRO
(There Will Be Blood; EUA, 2007)
Dir.: Paul Thomas Anderson
Com Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Ciarán Hinds
2h38 min - Drama

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Em 2002, houve um filme acima da média chamado "Gangues de Nova York". O personagem principal era Leonardo diCaprio, a mocinha era Cameron Diaz. E o vilão (e um excelente vilão) era Bill, o açogueiro, interpretado por Daniel Day-Lewis. E ele fez a festa. Assustador, brilhante e psicótico, não houve celebridades que pudessem ofuscar um dos personagens mais brilhantes dos últimos tempos. Mas o tempo passou, e Bill, ao que tudo indicava, ficou contido dentro da fita. Anos se passaram e Daniel Day-Lewis voltou com outro épico, outro persoagem forte. E com muito daquele Bill dentro de si.

O filme segue a trajetória de Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), e sua busca incessante de descobrir petróleo. Com o passar dos anos, ele vai se enriquecendo e comprando as propriedades para expandir o seu negócio lucrativo e assim dominar a região. E no auge de seu poder, descobre um terreno que ainda não é seu, mas com grande capacidade de produção. Os donos do terreno não se mostrariam tão resistentes se não fosse por Eli Sunday, um dos filhos do dono e jovem pastor da igreja local que decide fazer negócios com o obscuro empreiteiro. O problema é que Daniel não pensa em dividir lucros e em meio aos seus problemas e sua eterna paranóia, fará de tudo para tomar a terra a força.

"Você disse que meu filho é assustador?"

Em meio a tantos filmes que exigem apenas sentar em frente a tela e se divertir, "Sangue Negro" exige paciência, força e capacidade de absorção. Não é o filme que você vai alugar para ver num sábado a noite com os amigos. É chocante, pesado e extremamente meticuloso com os detalhes. As quase três horas de filme são uma série de descontruções do relacionamento humano de uma pessoa inescrupulosa, gananciosa e fechada. E apenas na janela da relação com seu filho, que se desenvolve com o passar do tempo na história, é que podemos ver sua única ponta de carinho e preocupação, contanto que não atrapalhe os negócios. Daniel Day-Lewis entrega sua atuação mais visceral e beirando a perfeição (vencedora do Oscar), que chega a ser inevitável o roubo das cenas e do filme. O espectador desenvolve rapidamente uma relação de amor e ódio com o protagonista, torcendo contra e à favor quase que simultâneamente, cortesia de uma direção magistral de Paul Thomas Anderson (Magnólia, Boogie Nights). Não há personagens ou atores no filme à altura. Seu precursor, Bill, deve estar com um belo sorriso no rosto e ao que tudo indica, mais vivo do que nunca.

(Nota 9,0)
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Trailer:

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O cão que ladra...

...ou Como Estragar uma História em uma hora e meia.
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JUMPER
(Jumper; EUA, 2007)
Dir.: Doug Liman
Com Hayden Christiansen, Samuel L. Jackson, Diane Lane, Michael Rooker
1h28 min - Ação

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Poderia até começar esse post falando sobre campanhas de marketing, mas não quero parecer repetitivo. Então vamos falar de desperdício. Desperdício de uma premissa boa, orquestrada por um diretor que se envolve com projetos bacanas, com atores competentes (salvo o principal) e com um visual caprichado. Bons efeitos especiais de sobra, locações belas e um desenvolvimento... pífio. Estamos falando de outra bomba do ano: Jumper.
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Imagine que você possa ir para qualquer lugar a qualquer momento em uma fração de segundos. O que você faria? David Rice (o inosso Hayden Christiansen, ex-Anakin Skywalker), que era o bobão da turma faz o óbvio: Se enche de dinheiro, mulheres e um apartamento cheio de coisas bacanas. Mas David não está sozinho no mundo. Há outros Jumpers. E para conter a boa vida dos Jumpers, há os Paladinos, caçadores de Jumpers.
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"Que saudades da minha época de Pulp Fiction"
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Como já foi dito, a premissa é boa. Mas o desenvolvimento peca de forma imperdoável. Há muitas (MUITAS) coisas no filme mal desenroladas, como o romance entre os personagens principais, um "background" de um personagem principal (fraco) extremamente mal-escrito, atuações abaixo do considerado razoável. E meu Deus: Como Samuel L. Jackson, um ator tão bacana consegue se envolver nesse tipo de filme? Seu personagem, o vilão do filme, é quase que um pastelão, e ajuda a jogar o filme para baixo. A sensação pós-filme, é que tudo foi executado com certa preguiça. Tudo precisava ser contada de forma rápida para chegarmos logo a uma ação que deixa a desejar. Os efeitos visuais compensam, mas não são o suficiente para salvar a trama. Se o cinema é feito para dar vida as nossas imaginações e vivenciarmos experiências, e o teletransporte seja um conceito intrigante, talvez ele mereça um filme bem mais interessante.
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(Nota 2,5)
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Trailer:

terça-feira, 15 de julho de 2008

It´s Alive!

Com um show de impressionantes e assustadores efeitos, Cloverfield surpreende.
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CLOVERFIELD - MONSTRO
(Cloverfield; EUA, 2007)
Dir.: Matt Reeves
Com Lizzy Caplan, Jessica Lucas, T.J Miller, Michael Stahl-David
1h24 min - Terror
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Há alguns anos atrás, o mundo conheceu "A Bruxa de Blair". Eu não gostei. Achei muito barulho para pouco filme. Não esperava muito de atuações, mas queria conteúdo e uma história na média para me entreter. Acabei entediado e decepcionado. Ponto.
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Anos mais tarde, um sujeito cria um fenômeno da televisão. Lost. Muito barulho. Bom conteúdo. Para quem acompanha a série, sabe que a quarta temporada acabou se tornando um divisor de águas, principalmente entre o público. Quem não se desinteressou, ficou mais fissurado na série. Ponto.
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Mas antes de estreiar a quarta temporada, J.J. Abrams, o criador de Lost, aproveitou sua fama para bancar este "Cloverfield", filme que teve como divulgação um trailer confuso e um poster que ostentava a Estátua da Liberdade com a cabeça arrancada na unha. Falar sobre a história pode estragar qualquer experiência, mas o que o trailer entrega é que durante uma festa de despedida, uma explosão no centro de Nova York causa pânico e tumulto. A cidade começa a ser evacuada em meio ao caos e destruição, tudo filmado em primeira pessoa. O que o título do filme entrega é que o que está causando tudo isso, é um monstro gigante. E o que o blogueiro aqui pode adiantar, é que qualquer comparação com a "Bruxa de Blair" é injustiça.


"O Monstro fica do outro lado..."

Injustiça, porque ao contrário do filme de 1999, temos conteúdo. A história leva 20 minutos para estabelecer de forma bem simples e eficiente somente o que se precisa saber para entrar no clima e simpatizar com os personagens. Quando começa o ataque, um show de efeitos especiais (impressionantes, diga-se de passagem) e uma câmera sufocante em meio ao corre-corre mostrando as decisões desesperadas de um grupo de sobreviventes. Ao sentarem para assistir ao filme, é necessário ter uma coisa em mente: É um filme de monstro. Não requer discussões filosóficas, referências geniais ou atuações brilhantes (o elenco é desconhecido, mas cumpre seu papel). É um filme para se divertir e se assustar. Tem sangue, morte, criaturas bizarras (o monstrão desengonçado poderia ter sido melhor, mas é só entrar no clima). Prende a atenção o suficiente para que o espectador saia satisfeito. Não recomendado a pessoas que sofram de náuseas ou labirintite. Altamente recomendado para o restante. Pena que meu preconceito me impediu de ver esse belo exercício de cinema na telona.

(Nota 8,5)

Trailer:
P.S.: Agradeço a indicação do filme.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sexo, Drogas e Politicagem.

A Guerra Fria vista dos bastidores
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JOGOS DO PODER
(Charlie Wilson´s War)
Dir.: Mike Nichols
Com Tom Hanks, Julia Roberts, Phillip Seymour Hoffman
1h 42min - Drama
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Tom Hanks parecia estar brigado com seus fãs. Ninguem pareceu ter gostado muito de "Matadores de Velhinhas", "O Terminal" e muito menos da atuação de seus "mullets" em "O Código DaVinci". Mas ele é um profissional, e como um ator que parece sempre ler o que vai interpretar, saiu novamente de sua linha clássica de personagens e interpretar um político polêmico, que se diverte em banheiras com drogas, mulheres e politicagem. Decidiu reapresentar sua linha versátil e acabou reconhecido pela crítica, mas nem tanto pelo público, na história do congressista americano que traçou um audacioso plano para derrubar a União Soviética durante a Guerra Fria.

E com isso, a história começa no começo da década de 80, onde o congressista, entre uma festa e outra, assiste uma suposta crise no Afeganistão e decide investigar. Dobra o orçamento de suporte dos EUA ao país e atrai a atenção de uma milionária simpatizante a causa (Julia Roberts, sumida antes e durante o filme). Juntos começam a traçar um plano para auxiliar os afegãos a vencerem a guerra e desestabilizarem a União Soviética. Entra em cena o renegado agente da CIA, Gust Avrakotos (Phillip Seymor Hoffman, genial como sempre) que arruma os meios e os contatos para que o plano dê certo. Só falta agora, convencer o governo americano a entrar numa guerra onde terão de se expor, e arriscar ainda mais a crise entre as duas nações mais poderosas do mundo.

"Falaram mal do seu cabelo..."
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Aviso: Este é um filme de diálogos. Inteligente, sarcástico e muitas vezes engraçadíssimo. Destaque para as cenas entre Hanks e Hoffman (as melhores do filme). Julia Roberts passa batida e assume seu posto de Coadjuvante. A composição do personagem de Hanks é estabelecida com muito pouco tempo e logo de cara simpatizamos com o personagem. Caso isso falhasse, um filme como esses escoaria ralo abaixo rapidamente. É um filme que manda seu recado de forma eficiente, sutil e com tempo para criticar o cenário atual. Mas corre o risco de ficar chato em um programa onde se precisa de menos atenção e mais diversão. Mas ei, Hanks está tentando. E ele acertou desta vez. Pena que Hoffman roube um pouco de seu brilho quando estão juntos. Ah, a saber: Baseado em fatos reais.
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(Nota 7,0)
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Vivendo e Aprendendo

A volta ao mundo de Jack Nicholson e Morgan Freeman
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ANTES DE PARTIR
(The Bucket List; EUA, 2007)
Dir.: Rob Reiner
Com Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes
1h37 min - Drama
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Periodicamente, um grande estúdio junta dois atores de ponta e toda uma campanha de marketing é desenvolvida em cima da imagem das duas estrelas em um poster descontraído onde eles (ou elas) estão se abraçando, rindo e passando uma idéia de que você vai se divertir tanto quanto eles estão na foto. Existe também o outro extremo, onde estão um de frente para o outro, cara de mau e tudo focado para dar a impressão de que será pura quebradeira. No fim do ano passado, aconteceu novamente o primeiro caso. As estrelas em questão eram nada mais nada menos do que Jack Nicholson e Morgan Freeman (dois dos favoritos deste blogueiro). A história parecia batida e com o final contado, mas algo parecia atrair multidões para as salas de exibição. Será a campanha de marketing?
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O filme começa com o milionário Edward Cole (Nicholson em atuação "delivery") passando por problemas de saúde e sendo internado em um hospital. Lá conhecer Carter Chambers (Freeman, também no modo "delivery"), um mecânico com poucos recursos financeiros, mas dono de um invejável conhecimento. Carter se lembra de um exercício que fez quando jovem onde fazia a "Lista da Bota" - A listagem das coisas que gostaria de fazer antes de morrer (ou de chutar a bota, como eles preferem dizer). Não demora muito para surgir a idéia de explorarem o mundo, realizando os tópicos da lista e se divertindo a beça.
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"Morgan, tua câmera tá desligada... "

O filme tinha todos os elementos para ser o "filme-lencinho" de 2007: Estreia próxima ao natal, tema simpatizante de todos os públicos, grandes atores, trailer emotivo sendo exibido em todas as sessões da época. Era a própria campanha de marketing funcionando. O problema é que durante todo o filme, os personagens se divertem muito mais do que o espectador, nos restando as piadas e os cartões postais (em alguns casos, mal-colocados). Os tópicos/passeios pelos quais os personagens passam parecem ser simplesmente jogados na tela, sem qualquer reflexão ou motivo pelos quais eles estão saltando de para-quedas, ou apostando corrida num shelby. Há um motivo em especial porque pular de para-quedas é importante para um deles? No geral, o filme é divertido, não se engane, mas poderia ter ido mais a fundo e explorado melhor os dois simpáticos personagens. E a relação familiar de Carter, acaba sendo mostrada de forma muito superficial, o que acaba por decepcionar. Não desaponta como sessão da tarde, mas tinha tudo para ser horário nobre.
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(Nota 6,5)
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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Segredos de uma mente doentia

Nem a morte consegue deter Jigsaw, de acordo com o quarto episódio da série.
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JOGOS MORTAIS 4
(Saw IV; EUA, 2007)
Dir.: Darren Lynn Bousman
Com Tobin Bell, Scott Patterson, Costas Mandylor, Lyriq Bent
1h32 min - Terror
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Parece que agora é definitivo: Todo mês das bruxas vai ter "jogos mortais". Há 4 anos que isso acontece e já foi lançado o poster do quinto filme para outubro. A rentável série que vem crescendo, deu sinais de ter sido encerrada em 2006, mas ano passado apresentou um quarto capítulo cuja trama era mantido em total segredo. E a cada novo filme, a dinâmica era produções mais caras, com mais sangue e geravam mais lucro nas bilheterias.
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Pois bem. A dinâmica parece dar sinais de desaceleração. Neste episódio, a trama começa com uma visual autópsia do vilão, que escondia uma de suas famosas fitas, endereçadas a um policial. Depois, a trama se divide em dois: Uma parte em flashback conta as origens do assassino Jigsaw, famoso por fazer com que suas vítimas caíssem em suas armadilhas. A outra vai focar no sargento Rigg, que participou das investigações (desde o 2o filme) e assiste a cada episódio, seus companheiros serem pegos, um a um. Agora como vítima, ele terá de passar por uma série de testes para superar a morte de sua parceira.
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"Você não viu o que fizeram com o outro cara..."
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O maior problema deste quarto episódio, é justamente a falta de uma trama consistente. Para os fãs do gênero, está tudo aqui: As torturas mais elaboradas, muito mais sangue, mortes bizarras, armadilhas complexas, etc. Mas o que mais incomoda é o clima de "oba-oba" e a completa falta de respeito com um vilão que parecia ser muito mais do que ele se mostra. Um personagem que estava virando referência tem seus motivos reduzidos a completos clichês. O final do filme convence (apesar de ficar muito aquém dos outros) e de uma certa forma se mostra criativo para uma série que matou seu vilão no meio do caminho. Mas a criatividade corre sério risco de se esgotar. Pelo menos, o senso de continuidade da série continua como seu grande triunfo. Enquanto não sabemos se o quinto filme poderá explicar o que acontece aqui, digo com convicção de que este é um capítulo descartável. E que Jigsaw já foi muito mais interessante, enquanto vivia.
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(Nota 4,0)
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terça-feira, 1 de julho de 2008

Sangue e Sombras

Baseado numa peça da Broadway, Johnny Depp faz a festa em "Sweeney Todd"
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SWEENEY TODD - O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET
(Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street; EUA, 2007)
Dir.: Tim Burton
Com Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Sacha Baron Cohen
1h56 min - Musical/Drama
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Já é a sexta vez que Johhny Depp faz parceria com Tim Burton. Essa aliança já nos rendeu novos clássicos como Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood. Atraiu multidões com a nova versão de "A Fantástica Fábrica de Chocolates", "A Noiva Cadáver" (onde Depp fez apenas voz) e "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" (o maior sucesso comercial da dupla). E agora, um musical da Broadway.
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Sempre com o visual arrebatador, a história (cronologica) começa com Benjamin Barker, um homem que é separado de sua família e trancafiado numa prisão mesmo sendo inocente. Enquanto na prisão, bola um plano de vingança e quando sai, vai para Londres, onde monta uma barbearia em cima de uma loja de tortas. La dentro, ele não é mais Barker, mas Sweeney Todd, um barbeiro aplicadíssimo que promete o melhor corte de Londres, enquanto espera ansiosamente a visita do Juiz Turpin, o homem culpado pelo seu trauma. Sua sede de vingança o faz matar seus clientes a golpes de navalha. E os corpos? Bem, os corpos servirão de recheio para as tortas da Sra. Lovett, logo abaixo do estabelecimento.

"Chega aí... Deixa eu aparar essa costeleta..."
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O filme recebeu 3 indicações ao Oscar este ano (Ator para Johnny Depp e figurino) e ganhou um (Melhor Direção de Arte). Nas três indicações, o filme é realmente surpreendente. Um cuidado magistral com os detalhes (clássico dos filmes de Burton) o desconforto visual representando a problemática psicológica dos personagens, além da excelente noção de história que o diretor tem. A parte técnica e a atuação de Depp estão impecáveis. O problema aqui é justamente a parte musical. Tudo é muito exagerado. É o ponto da trama onde o espectador se lembra de estar assistindo a um filme e se afasta um pouco do que está acontecendo. O filme diverte, mas será inevitável uma ou outra cena em que você pode pensar: "Musica? De novo"? Salvo desta, a cena onde Johnny Depp e Helena Bonhan Carter estão tramando seus planos dentro da loja de tortas. De resto, apenas para os fãs do gênero ou para os que estão com Burton e Depp aonde eles forem. A parceria já gerou melhores frutos. Bem melhores.
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(Nota 6,0)
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Trailer: