sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Época da Inocência

Com uma campanha de divulgação discreta e um elenco bem montado, a grande surpresa de 2007 chega as locadoras.
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JUNO
(Juno; EUA, 2007)
Dir.: Jason Reitman
Com Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Gardner
1h36 min - Drama/Comédia
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Dentre os burburinhos de fim de ano, apareceu o nome "Juno". Os críticos aclamavam, os espectadores americanos prestigiavam as salas de cinema, sua protagonista Ellen Page estava em todas nas capas de revistas. E aqui no Brasil, até então, apenas cigarras ao fundo. Bastou o anúncio da corrida para o Oscar e o pequeno "fenômeno" deu as caras nas salas de exibição tupiniquins. Algumas semanas de pré-estreias depois, o público nacional conferiu e ficou satisfeito.
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Pois bem. Trata-se de um filme simples, com uma história simples, composta por personagens simples. Ao primeiro olhar, pelo menos. Bastou uma tarde entediada, e Juno (a personagem-título do filme) resolve fazer sexo com seu melhor amigo. Semanas depois, muito suco de laranja e uma dezena de testes de gravidez apontam o maior medo das adolescentes: Gravidez. Juno e seus 16 anos passarão os próximos nove meses procurando o melhor caminho para seu filho. Ela e sua melhor amiga, decidem arrumar um casal para adotar a criança, já que não quer ter esse tipo de responsabilidade tão cedo na vida.
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Contar mais do que isso pode estragar uma experiencia saudável de cinema. Uma atmosfera totalmente "indie" compõe o universo de uma adolescente com gostos típicos e estabelece o clima de todo o filme e seus personagens extremamente caricatos. Doses cavalares de musica alternativa, utilização de cores diferenciadas e muito bom humor. Aliás, um humor sutil predomina em uma história que nas mãos de um diretor descuidado, resultaria em gags de mal gosto. A personagem Juno é assustadoramente realista e suas decisões nem sempre deixarão o espectador confortável, porém nunca ficamos contra ela. As quatro indicações ao Oscar (filme, direção, atriz e premiada com melhor roteiro original) são merecidas. Uma ótima pedida para um dia mais, digamos, "leve".
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(Nota 9,0)
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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Medo e Delírio

Com um roteiro enxuto e com boas doses de suspense, chega as locadoras o grande vencedor do Oscar 2008.

ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ
(No Country for Old Men; EUA, 2007)
Dir.: Ethan e Joel Coen
Com Tommy Lee Jones, Josh Brolin, Javier Bardem, Kelly McDonald
2h02 min - Suspense
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Há coisas que acontecem na vida, que não parecem ter muita explicação. Podem ser detalhes, como um grande evento. Ano passado, os Irmãos Coen, sempre em alta em Hollywood, apresentaram um filme que ate então voara baixo nos mais ávidos radares da mídia. Apresentado em Cannes, surpreendeu e começou o burburinho sobre indicações ao Oscar. Não era bem um faroeste. Não era contemporâneo tambem, mas falava sobre um tema muito comentado hoje em dia: O medo.
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E das prováveis indicações ao prêmio máximo do cinema, um nome era o mais certo: Javier Bardem, que ironicamente, nada mais faz no filme do que ser a própria personificação do medo. Um assassino frio e calculista. Metódico ao último fim de cabelo. Uma performance coadjuvante que rouba a cena dos protagonistas com sobras e se transforma em um dos vilões mais impressionantes do cinema desde que Anthony Hopkins comeu algumas pessoas em "O Silêncio dos Inocentes". E assim como seu antecessor, a vitória no Oscar, mas como melhor ator coadjuvante.
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Mas a história, passada nos anos 80, começa com Llewelyn Moss. Um caipirão que em um dia de caça, acaba encontrando um malote cheio de dinheiro em um cenário que claramente indica um violento tiroteio e uma negociação (envolvendo drogas) que não deu muito certo. Moss acaba pegando o dinheiro e deixa a cena com alguns vestígios. Logo logo ele é rastreado e então entra em cena o temido Anton Chigurh, um assassino impiedoso, na cola de Moss. E durante todo o alvoroço, o xerife Bell, conhecido de Llewelyn, tenta desvendar o caso.
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O filme tem incontáveis triunfos, que varia desde as atuações a direção (sempre acima da média) dos Irmãos Coen (vencedor do oscar ainda como melhor filme, roteiro adaptado e direção). E a intensificação do suspense se dá pela completa ausência de trilha sonora. Somente os diálogos e os certeiros efeitos sonoros para cada cena tornam o clima do filme mais angustiante. São detalhes. Detalhes que crescem junto com a sua ansiedade. Mas que nem sempre explicam os eventos que acontecem "off-screen". Que remetem ao medo da falta de controle que temos na vida. E todo esse medo, ainda ganha uma boa refelxão no fim. Não agrada a todos. Mas, a vida é assim mesmo.
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(Nota 10,0)
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Trailer:

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O ultimo homem da Terra

Munido de efeitos especiais vergonhosos e com pouca história, nem Will Smith salva este filme de zumbis e cia.
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EU SOU A LENDA
(I am Legend)
Dir.: Francis Lawrence
Com.: Will Smith, Alice Braga
100 min. - Ação/Suspense
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Filmes de Zumbis é quase um gênero norte-americano. Desde George Romero, esses filmes seguem um padrão básico: Algo dissemina a população rapidamente (geralmente um vírus, ou uma experiência genética mal-sucedida) e os contaminados devem permanecer soltos na cidade para sobreviverem de sangue/carne/cerebro humano. Sempre sobram poucos que vão sendo executados conforme as horas de projeção passam. Aí chegam no final os mais fortes, ou os mais preparados. Se o personagem pelo qual torce faz uma piadinha boa no filme, ou está estampado no poster, ele chega até o final, ou é executado em uma cena clímax com a música estourando as caixas de som.
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Baseado no romance apocalíptico "The Omega Man", o filme traz a história do cientista Robert Neville (Smith, em atuação deletável), o último homem vivo na cidade de Nova York. Ele passa seus dias a pesquisar uma forma de desenvolver um soro capaz de reverter a condição de quase toda a população mundial da forma de criaturas sedentas por sangue que devem viver nas sombras. Como vampiros, elas saem a noite para caçar qualquer um que estiver de bobeira.
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E é nesse ponto que o filme escorrega. Não é só o fato de Will Smith estar muito mal aproveitado na história. Seu personagem só entra em contato com essas criaturas da noite, por conta de alguma "bobeira" que ele comete. Até então, nenhum deles sabe da existencia de Neville na cidade, tamanha discrição e discipina que ele tem. E os efeitos especiais (que deveriam ser um ponto alto do filme), jogam contra o time: Os "zumbis" parecem que foram feitos em 1996 e reaproveitados aqui. O único ponto a favor, é a atmosfera apocalíptica que o diretor conseguiu criar. As cenas externas de uma Nova York isolada são de tamanho capricho e temor que só podem ser comparadas ao contrastante flashback de quando a cidade estava sendo evacuada. Fora isso, um filme vazio e sem propósito. E nem o final alternativo nos extras do DVD brinda com uma luz no fim do túnel.
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(Nota 2,0)
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Quase um Clássico

Violento. Surpreendente. E com quase 20 minutos adicionais, "O Gangster" chega em DVD como o grande lançamento de Junho.
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O GÂNGSTER
(American Gangster; EUA, 2007)
Dir.: Ridley Scott
Com Denzel Washington, Russell Crowe, Josh Brolin, Cuba Gooding Jr.
158 min (original)/ 177 min (estendida) - Drama
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Denzel Washington se tornou um ícone no cinema americano interpretando o bom moço. Foi o advogado que imerge na causa da AIDS em "Filadélfia", o policial expert e paraplégico de "O Colecionador de Ossos". Em 2001, surpreendeu ao interpretar um vilão no excelente "Dia de Treinamento". E anos mais tarde, resolveu repetir a dose, com um "vilão" mais classudo e poderoso.
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Baseado em fatos reais, Washington faz as vezes de Frank Lucas. Assume a frente do tráfico de drogas em uma Nova York dominada pela máfia italiana. Voou por baixo do radar da polícia por não ter intermediários e tratar da negociação direto com o fornecedor vietcongue em plena guerra e utilizar os caixões dos soldados mortos como recipiente. Sua logística dissemina a droga na cidade de forma rápida e eficiente, complicando a situação da concorrência. Paralelo a isso, somos apresentados a Ritchie Roberts. Novato na força policial nova-iorquina, Ritchie é repreendido por descobrir um esquema e devolver o dinheiro a polícia. Precisando se reestabalecer, resolve rastrear a origem de uma nova droga que está circulando pela cidade, que pode levar a um novo criminoso que fugiria de quaisquer padrões conhecidos na época.
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O filme é uma crescente pressão até o inevitável embate entre os dois. Passando por temas como família, corrupção e valores morais, "O Gângster" ainda nos brinda com performances inspiradas e uma trama amarrada e sólida. Ao invés de apelar para tiroteios e cenas gratuitas, o diretor Ridley Scott prefere focar na construção dos personagens e de deixar o espectador a par de cada decisão tomada por seus protagonistas. E a versão em DVD ainda nos brinda com mais 18 minutos não exibidos nos cinemas (nada que faça diferença a trama, mas enriquecendo os dois personagens). É cinema de primeira.
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(Nota 9,5)
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Trailer: